13 novembro 2010

O Magusto de Marmelete - 2010

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
Os magustos c'meçam inda a famila nã chigô toda...


A gente aqui tem-se p'r c'stume fazer os magustos no pr'mêro de Novembro, Dia de Todos Santos. Nã sê que jêto, nas ôtras terras todas p'r'í' fora, só dia de S. Martinho é que s' alembram de fazer tal coisa. Calhando, é premode eles acompanharem as castanhas com aquela bobida, munto deslavada, que tem memo o nome com ela: água-pé.

Más o qu' eles nã sabem é que com uma castanhita assada calha bem é um calcesinho de madronho, nã é aquilo. Inda p'r cima, num tempo destes, que já faz um belo frio, ir bober água-pé, uma coisa que nem dá p'a um homem aquecer... Isto p'a nã falar im coisa pior ainda... É que se calha a barriga duma pessoa a nã acêtar bem aquela morraça, um f'lano inda s' afitura a l'e dar, com l'cença da palavra, alguma borrêra...

Uma ocasião, isso dé-se aí com um amigo, munto graganêro, que foi a casa dum parente dum compadre dele e, pro jêto, tinham lá um barril de vinho, inda fêto de pôco tempo, por incetar. Ora, o ôtro, nã sê se já por judêria ó nã sabendo bem o que fazia, foi abrir essa tal vasilha e infiô-l'e p'a lá com umas copadas valentes.

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
Em o vento pertando, é uma zorrêra que nã se vê quái nada...


O vizinho Manel Mansinho - nã queria alomear o nome, mái agora já disse, pacência... - munto graganêro c'm' ê cá já disse, nã negô carga. Ora, nã é qu' ê cá quêra d'zer qu' ele vêo de lá munto escorvado, qu' o homem des que àguenta munta bobida, mái, inda vinham a mê caminho de volta, t'veram logo qu' aparar o carro, lá num certo sito, p'a ele se governar. E, tã penas chigô a casa, aquilo era de tornêrinha... Mái, nã cudem, andô quái perto duma semana de sôltura...

E quem me contô isso tudo foi méme a m'lher dele, a ti Zabel Carrusca, passados pôcos dias do caso se dar. A m'lher - dizem... qu' ê cá nã me meto nisso... - é malina do pior, inda 'tava toda infèzada com aquilo, descosé-se a contar tudo, qu' ela nã gosta nada qu' ele beba. Máicudem que me contô só a mim. Foi a mim e a quem quis ôvir.

De manêras que, nã hôve bicho-careto que nã t'vesse sabido qu' o ti Manel Mansinho andô dia e nôte de calças na mão... Ele até f'cô aí im moda uma quadra já munto antiga qu' o Adelino da Desmoitada, munto gozão, l'e recitô da primêra vez qu' o viu na Vila, em dia de Domingo, a seguir a isso.

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
A mêo da tarde, ele há magustos p'r toda a banda...


Agora, em vendo o ti Manel, vem-me logo à mimóira essa dita quadra, que nã sê quem é qu' a enventô:


End'rêta-te, Zézinho
sustém-te, ó Micaela
nunca mái se bebe vinho
'té curar esta piela


Mái, uma ocasião, d'zeram isso ô pé da ti Zabel. Punhana!... Dé-l'e um géno tã grande ó tã pequeno, inxovalhô todos q'ontos ali 'tavam duma tal manêra que f'cô tudo caladinho que nem ratos... Nenhum abriu mái pio...

A m'lher, sigundo corre fama, na frente dos ôtros nunca bebe, mái lá na casa dela, sozinha, inda bem não, baldêa umas copadinhas sem ninguém ver. Más isso é lá com ela. Se ser verdade, désna que nã se meta com a vida alhêa, que l'e faça bom prevêto...

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
Quem tenha munta prática faz um magusto de tod' ô tamanho...


Mái, premode esta conversa, já quái que me desquecia de falar do magusto de Marmelete. Aquilo, 'tá bom de ver, é, todos anos, mái ó menes a méma coisa. E inda bem. Se é um magusto, é um magusto... E um magusto, aqui na nossa zona, é assar castanhas, come-las, bober uns calcesinhos dela, charolar e tisnar a cara dos ôtros...

Agora, e fazem muntíssimo de bem, tamém assam um pórco, põem umas barrecas com bolos e f'lhozes, vendem cerveja im vez de madronho e até usa a lá 'tar o jogo do bicho com um porcalho da índia a escolher qual é o que ganha a garrafa do vinho porto.

Isto p'a nã falar do palco adonde parêcem a tocar e cantar uns qu' ê cá nã nos conheço de banda nenhuma, mái tenho a firme certeza qu' hô-de ser malta do melhor que há. P'r menes, a minha comadre C'stóida, nã sê s' é verdade s' é mintira, des que 'tava a d'zer à prima Jôquinita, a mulher do Tóino Arraúl, que já os tem ôvisto na Rádio Fóia:

Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
À fim dum pôcachinho, olha-se p'a debaxo do fogo e já têm aira de 'tarem assadas...


- Sa senhora, prima. Inda ontontem, 'tava ê cá ôvindo a Rádio Fóia, já nã m' alembra bem é se era a senhora Fátima Peres da Rota do Sol, se era a senhora Idalete Marques do Expresso da Tarde... Ó, atão, saria os Discos Pedidos da senhora Telma Santos?... Olhe, a minha cabeça já nã 'tá capaz... Mái foi na Rádio Fóia quái de certeza. Atã ê cá nã oiço mái nenhuma a nã ser a Rádio Fóia...

- E 'tava lá algum destes a tocar?

- A tocar e a cantar!... Atã, nã tem ôvisto falar qu' aquele àlém é, béque-me, organista-vocalista?!...

- !... Organista-vocalista... E o qu' é qu' é isso?

- Ê cá nã sê... Mái nã tem nada im ser aquele aparelho qu' ele tem àlém... que faz tudo...

- Atã isso, trazê-los aqui, há-de f'car puxado p' à Junta...

- Isso sabe-se!... Ora, puxado... Há-de custar o coiro e o cabelo...

- E vá lá qu' ele desquecé-se trazer aquelas moças que usam a andar ali, quái im pelote, abanar o rabo im cimba do palco. Bem fêta qu' é p' ô estapôr mê Antóino nã vir semp'e p' aqui, fêto parvo, a olhar p'a elas, todo baboso...

- Ó prima Jôquinita, isso nã é só o sê Antóino... Eles sã todos iguales. Atã cuda qu' o mê Jôquim e além o Parente da Refóias nã fazem o mémo?!... Olhe p'ra eles, além im baxo, os três, com o olhos fitos naquelas moças....

- Ah, marafados! E lá vão eles tisná-las!... Dêxa qu' ê, mái logo, logo l'e digo ô meu... Ele que venha cá munto p' ô mê lado, todo meloso, c'm' q'ondo quer certas coisas, que logo vê...

 Magusto de Marmelete - 1 de Novembro de 2010
Mal uma pessoa nã s' aprecata, leva logo uma tisnadela...


Mái, inda com respêto ô magusto de Marmelete, semp'e l'es digo que quem nunca cá vêo nã viu o qu' era bom. É qu' isto nã é um magusto, sã dúizas de magustos. Cada qual faz o seu, querendo. Nã querendo, come das castanhas qu' os ôtros assam. E tudo de graça, nã cudem... As castanhas...

Agora bobida, isso, quem querer molhar o bico, ó traz uma garrafinha de casa c'm' ê cá faço sempre e más os mês amigos, ó, atão, tem que a ir comprar lá às tales barrecas. Mái pode ir à confiança qu' aquilo nã é caro e o material é de pr'mêra.

E, assim sendo, mês belos amigos, pr' ô ano, na façam a falseta. Os que já vieram, venham ôtra vez. Os qu' inda nunca cá parceram, parêçam que nã dã o tempo p'r mal impregue.

Querendem ver videos e retratos do que se passô lá, acalquem aqui na Galeria dos Vídeos do Parente da Refóias ó na Galeria do Magusto de Marmelete.

Os videos tamém 'tão logo aí prebaxinho. É só acalcar im cimba deles.

E passem munto bem.













Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado por visitar e comentar "O Parente da Refóias"